O CORPO É O LAR DA SAUDADE

Imagem: Brunna Mancuso


o corpo é o lar da saudade

[Thiago Soeiro]

Ajeito as pernas no ônibus. há sempre um espaço apertado para você que cresceu além do que devia. mas não tem explicação essas coisas de crescer. tudo em nós cresce. outro dia pensava em minha cidade natal. odiava me senti perdido sem explicação para essa estranha mania de gostar das coisas pequenas e das grandes ao mesmo tempo.  eu lembro que minha avó usava unhas cumpridas e sempre vermelhas. eu via um pouco de aventura em seus olhos. juntos falávamos de coisas que mais ninguém entendia. era como se tivéssimos uma linguagem só nossa. há perigo demais em viver de lembranças? só vovó sabia as melhores histórias de um tempo que eu não existia. sempre gostei mais das histórias reais. acho que herdei dela esse jeito para contar as coisas para gostas das lembranças. ajeito de novo as pernas e ao meu lado ninguém sabe que não estou ali. conto as paradas de ônibus. tem sempre que haver alguém esperando na vida.  meu lugar é outro. meu corpo é o lar da saudade.

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